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- Ex.mo Sr. Chefe do Estado Maior do Exército General Hernandes Jerónimo
- Ex.mo Sr. Chanceler … General Rocha Vieira
- Ex.mo Sr. Comandante do CID, General Rovisco Duarte
- Ex.mo Sr. Comandante da Brigada de Reação Rápida, MGEN Fernando Serafino
- Ex.mo Sr. Presidente da Liga dos Combatentes General Chito Rodrigues
- Ex.mo Sr. Presidente CML Dr. Raúl Castro
- Ex.mo Sr. Autor desta obra, Dr. Joaquim Santos
- Ex.mo Sr. Representante da Editora, Dr. Carlos Fernandes
- Ex.mas Entidades aqui presentes, Oficiais, Sargentos, Praças e civis
A todos expresso o maior agradecimento pela vossa presença no lançamento deste livro tão importante para a história da nossa cidade.
Ex.mo Sr. Comandante do RA4 e a todos os militares e civis deste Regimento, aproveito esta oportunidade para, em nome do Núcleo de Leiria da Liga dos Combatentes, expressar a nossa imensa gratidão pela colaboração sempre sempre sempre pronta para todas as nossas iniciativas com o objectivo de dignificar os nossos Combatentes.
Agradeço ao autor a honra pela oportunidade que me deu de escrever o prefácio de um livro de tão grande qualidade e valor histórico.
A primeira vez que o li ainda estava na forma de dissertação de tese de Mestrado. Comecei-o a ler mais para o avaliar do ponto de vista metodológico da investigação do que do tema em si. No entanto, após ler algumas páginas confesso que me apaixonei pelo tema e acabei por o ler também como um cidadão leiriense curioso pela história relacionada com a sua cidade, o jornalismo e a guerra.
Efetivamente o autor transporta-nos para um período muito conturbado da nossa sociedade: a passagem da Monarquia para a Republica e o eclodir da Grande Guerra na qual Portugal também acabou por se envolver.
Na verdade, estávamos na época da Consolidação da República em Portugal.
Viviam-se tempos difíceis e a guerra iniciada entre a Áustria e a Sérvia rapidamente se estendeu a vários países da Europa e do mundo, ganhando a amplitude de uma guerra mundial que ficou conhecida como a Grande Guerra.
Aquilo que começou como uma guerra de movimentos, que se julgava seria uma guerra que teria um desfecho rápido, acabou por se tornar numa guerra de posições, mais conhecida por guerra das Trincheiras, onde os avanços e recuos das forças eram muito demorados.
Portugal acabou por sentir necessidade de se envolver nesta guerra, quer para defender os seus interesses em África, quer para apoiar os seus aliados, nomeadamente, a França.
Portugal enviou um Corpo Expedicionário na última fase da guerra. Começou a preparar em 1916 e partiu em janeiro de 1917.
Foi para esta realidade terrível que o autor nos transportou através da análise dos jornais da época.
O autor fez uma análise cuidada dos jornais Leirienses da época, identificando sempre a sua conotação política de cada um, os seus objetivos e tipo de conteúdos. Para isso teve em conta o contexto jornalístico da época. Deu sempre destaque à forma como abordavam os assuntos relacionados com a guerra e se os mesmos eram ou não sujeitos à censura.
Neste aspeto é curioso observar que naquela altura, tal como agora se verifica habitualmente, os governos são contra a censura… desde que a comunicação social não fale mal deles.
Basta recordar que, o jornalismo como símbolo de poder, foi alvo de alterações profundas logo após a instauração da Republica. Logo cinco dias depois os jornalistas e os jornais foram objeto de legislação.
Com a chegada da Grande Guerra voltaram também as censuras às publicações (que durou até fevereiro de 1919).
Por exemplo, Afonso Lopes Vieira foi preso por causa dos seus poemas que escreveu em 1921 intitulado “Ao Soldado Desconhecido”, tendo esta obra sido apreendida por se considerar que lesava a pátria.
Não nos podemos esquecer que no início do século XX havia uma disputa dos monárquicos e dos republicanos pelo poder e, sem dúvida, os jornais com a sua capacidade de influência da opinião pública constituíam uma arma poderosa dessa disputa.
Os jornais que se destacaram nesta época foram:
O Leiria Ilustrado (Tito Larcher);
O Anunciador;
Jornal de Leiria;
O Radical (Joaquim Ribeiro de Carvalho /República);
A Voz Infantil;
O Mensageiro (Padre José F. Lacerda - Igreja Católica ligado à monarquia).
José Ferreira de Lacerda procurou incutir, através do jornal “O Mensageiro”, os valores da monarquia e Tito Larcher, através do jornal “Leiria Ilustrada” procurou chamar à razão para os valores republicanos.
Após a Implementação da Republica, os monárquicos Afonso Lopes Vieira, e Paiva Couceiro chegaram a estar presos por questões politicas.
A imprensa Leiriense foi muito influenciada por estas questões monarquia/ república, pelas alterações nas relações do estado com a igreja e pelo conflito da Grande Guerra.
Temos de ter em conta que antes do século XIX as narrativas dos conflitos chegavam-nos através de diários ou livros escritos pelos próprios soldados, ou por curiosos, e não propriamente por jornalistas.
Henry Robinson ficou conhecido como o primeiro jornalista de guerra. Em 1807, ao serviço do The Times, acompanhou a guerra da Independência de Espanha.
O primeiro jornalista de guerra português foi Hermano Neves que promoveu em A Capital a reportagem curta da guerra civil portuguesa quando se implementou a República em Portugal. Depois, em 1914, foi para França para acompanhar o conflito. (Mas teve dificuldades por causa das autoridades francesas.)
Numa outra perspectiva, Sousa Lopes foi um pintor nomeado oficial-artista do CEP que, na sua obra designada por “Rendição”, com 12 metros de comprimento, retratou a dura realidade que o CEP vivia no setor português na planície do rio Lys, em França.
O autor, Joaquim Santos, identificou muitos registos tais como reportagens, livros e diários que relatavam o conflito conseguindo analisar a evolução do jornalismo de guerra.
Um objectivo da investigação de Joaquim Santos foi caracterizar o género jornalístico dos textos de José Lacerda num contexto em que a crónica reinava e a reportagem se afirmava como um estilo tipicamente profissional de fazer jornalismo. Procurou assim perceber qual destes dois géneros se encontrava nas suas narrativas.
Neste sentido, convém referir que a crónica diferencia-se da reportagem na forma como o autor redige o texto, na sua apresentação, no modelo organizacional e no tipo de textos verbais.
A crónica normalmente reporta-se ao passado vivido enquanto a reportagem tende a descrever o presente, a atualidade. Na crónica o autor pode refletir a sua subjetividade. Na crónica, a descrição dos factos pode ter uma componente interpretativa do autor, podendo produzir um texto mais sedutor, de forma a despertar a paixão pela leitura. Mas isso afasta-o da notícia pura e isenta, o que não pode acontecer com a boa reportagem. Na reportagem o autor deve ser isento e constatar a autenticidade das suas informações
Para além de perceber estes géneros jornalísticos em cada situação, importante para a interpretação dos documentos, também pretendeu contribuir para o estudo da imprensa regional do séc. XX através das análises de casos do jornalismo Leiriense, nomeadamente, perceber como é que os acontecimentos da guerra se repercutiram numa cidade como Leiria.
Mas o objectivo principal desta investigação foi perceber a acção do Capelão Militar e Jornalista José Lacerda. Foi perceber como ele interpretou a sua missão de relatar os acontecimentos da Grande Guerra, uma função que exerceu em simultâneo com a de capelão militar.
Mas reparem! Para consolidar a sua investigação, o autor não se limitou a embrenhar-se nos arquivos e bibliotecas para ler documentos históricos. Ele deslocou-se pessoalmente a Flandres, nomeadamente a Richebourg, ao cemitério Militar Português, onde se deram os combates de La Lys (9 de Abril 1918). Ele quis ver o local onde se deu esta batalha tão famosa que ainda hoje comemoramos. Quis absorver o ambiente e compreender toda a mítica que ainda hoje a envolve. Teve uma acção louvável que reflecte bem o rigor do seu trabalho, cujos resultados estão bem visíveis nesta obra que hoje aqui apresentamos.
Esta obra também tem os seus heróis. Um deles foi o Padre José Ferreira de Lacerda (1881 – 1971) que se evidenciou com o jornal O Mensageiro, para onde escreveu as suas Crónicas de Guerra e com a sua acção sacerdotal na paróquia dos Milagres para onde foi com apenas 26 anos e lá continuou por mais 60.
Deu muitos contributos de cidadania na religião, política, jornalismo e capelanias miliares. Foi um filantropo.
Interessou-se muito pelo desenvolvimento e notoriedade de Leiria, das suas paróquias e do seu povo. Era adepto assumido de monarquia o que, se tivermos em conta o contexto da época, revela bem da sua coragem na luta pelos princípios que acreditava.
Em 1914 José Lacerda fundou o semanário O Mensageiro. Foi um jornal católico e o único que não pertencia aos fundamentos republicanos. José Lacerda e Júlio Pereira Roque (mais conhecido como o Jupéro) utilizaram o Mensageiro para combater as ideias republicanas e Afonso Costa.
Mesmo assim, o grande objetivo d’O Mensageiro foi a restauração da Diocese de Leiria, o que foi conseguido em 17 de janeiro 1918, através de bula “Quo vehementius” do Papa Bento XV.
O Padre José Lacerda notabilizou-se ainda pela sua luta pelo envio de mais capelães militares para o conflito, o que veio acontecer quando começou a haver muitos mortos e feridos. O Mensageiro contribuiu para esta decisão governamental.
Apesar de ter havido a Lei da separação do Estado com a igreja desde 20 de Abril de 1911, voltou a haver uma aproximação muito graças à ação dos capelães militares em 1914 e depois em 1917, pois o Estado compreendeu que assim cumpria melhor as suas funções e que essa era a vontade dos cidadãos. Na realidade, apesar da separação entre o Estado e a Igreja, o Governo acabou por enviar capelães militares para a Grande Guerra por reconhecer que a fé e a religião, no palco da guerra, constituíam um alívio moral para os soldados.
José Lacerda voluntariou-se para cumprir a função de capelão militar (Maio de 1917 a Setembro de 1917), servindo na Grande Guerra em França, onde escreveu crónicas que vieram mostrar o cenário difícil das hostilidades na guerra, as quais foram publicadas no Mensageiro. Salienta-se que graças a isto, a tiragem passou de 750 para 2.500 exemplares.
Para eu concluir, o nosso autor, Joaquim Santos, analisou os jornais da época, nomeadamente, os textos Crónicas de Guerra, do Capelão militar e jornalista, José Lacerda, cujas descrições e análises se recomenda a ler pois dão-nos uma percepção muito boa dos contributos do jornalismo Leiriense para relatar como os nossos soldados viveram a guerra, para conhecer melhor a história da cidade de Leiria e para identificar os géneros jornalísticos da época.
Mas ninguém melhor do que ele próprio para vos explicar as suas análises e conclusões.
Mário João Ley Garcia
Tenente-coronel de Artilharia