Onde mora a infância?
Rita Basílio
Poderíamos falar de casas quando falamos de livros, os livros são lugares que se abrem para fora e para dentro − lugares com tempo para dialogarmos com os outros e com espaço para conversarmos connosco mesmos.
Um livro pode ser uma casa estrita ou uma vasta biblioteca, tudo cabe num livro, sobretudo num livro infantil – aquele que acolhe começos, com a surpresa de olhos iniciais.
Onde encontrar esses olhos? Onde começa esse olhar sem fim?
Todos os escritores e artistas que procuram esses olhos escrevem para crianças. A criança é a mais alta coisa que o adulto cria.
Escrever literatura infantil é um modo de tentar manter a infância na nossa morada, para que a correspondência com a criança nunca cesse, para que os nossos olhos não se fechem depressa demais.
Estes três livros são três homenagens.
A Bela Desaparecida é uma homenagem ao fantástico universo da poesia e das narrativas tradicionais, berço de toda a criatividade humana, e ao poder (re)inventivo da Literatura − a mãe de todas as histórias que nos encantam desde que nascemos.
O Lápis Azul é uma homenagem à Arte e à sua liberdade livre, à sua forma de ser expressão do que nenhuma censura pode calar. Uma homenagem à imprevisibilidade das suas visões e aos modos como elas nos fazem ver muito além do que pode ser dito.
O País dos Homens Sábios é uma homenagem a Manuel António Pina, o Poeta que nos ensina que nem na mais infinita das Bibliotecas poderá alguma vez ser escrito e revelado o verdadeiro segredo da Literatura – o seu não saber. É aí que a infância mora, nesse lugar, em nós e fora de nós, onde o desconhecido nos faz perguntar, onde a curiosidade nos faz procurar, onde a vida é o próprio espanto de acontecer, o entusiasmo do mundo!
Porto Editora, 2007 Textiverso, 2008 Textiverso, 2021
PVP: 8 euros PVP: 14 euros