capaTítulo completo: Infinito Singular - Sobre o não-literário

Autor: Rui Magalhães

Colecção: ENSAIO, 1

ISBN: 989-8044-04-4

Nº de páginas: 221

Preço: 15 euros

Disponibilidade: disponível

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Sinopse:

A literatura, ou aquilo que assim denominamos, é uma resposta aparentemente una a uma multiplicidade de interrogações. O literário é donde provém a unidade; o não literário é, pelo menos em parte, a multiplicidade que subjaz, e que é frequentemente apagada por essa unidade.
Este livro pretende ir mais além do literário, ao ponto exactamente anterior à constituição do literário, àquele momento em que o problemático não foi ainda submetido à retórica literária, em que o texto nascente não é ainda texto literário porque não responde a questões colocadas pelo literário, não está ainda na corrida pelo seu direito a ser literário.

Ao arrancar o acontecimento à mera representação, o não literário aproxima-nos da sua profundidade possibilitando-nos a entrada no seu interior, isto é, permite entrar nessa espécie de vórtice que é o interior do acontecimento e experimentar o júbilo da singularidade. É essa experiência da não repetição, do carácter absolutamente único de cada coisa que ocorre do outro lado, mesmo que existam milhões de outras semelhantes, que a poesia proporciona. O poético é, neste sentido, a vitória sobre o simulacro e, por isso, a vitória sobre a falta e o excesso de palavra que marca o modo de existência comum. O modo de existência sugerido no poético é livre da necessidade de justificação. E ainda que, aparentemente, uma tal vitória seja alcançada através da palavra, o poeta (o sujeito da matéria literária) sabe que não é nunca de palavras que verdadeiramente se trata.


Este carácter de irrepetibilidade anuncia a simultaneidade de uma maior verdade e de uma maior falsidade da experiência poética: verdade em relação a si mesma; falsidade em relação à vida. Mas, ainda no mesmo movimento, o que a poesia faz é afastar a vida da sua situação privilegiada de paradigma. A vida torna-se, perante a experiência da irrepetibilidade, uma função monótona onde nada tem, verdadeiramente, lugar.


A esta experiência chamaremos infinito singular.


Mais exactamente, a isso que emerge, mais ou menos informe, porque não é susceptível de se constituir na experiência comum. Nasce dela, de um seu momento e prolonga-se numa outra ordem de espaço e de tempo. É, neste sentido, uma experiência de paixão. Neste sentido, a matéria literária é de carácter ontológico (mas de uma ontologia do sentido (seria preciso inventar uma outra palavra para substituir “ontológico”). Quebra o espaço-tempo comum e cria um outro tempo do qual nasce um outro espaço.