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Os professores, mais uma vez

por J.C. Maia

(crónica publicada no Jornal Torrejano e aqui.)

O mal-estar entre os docentes remonta a 2005, ao consulado de Sócrates e Lurdes Rodrigues, onde o governo de então perpetrou um conjunto de ataques à classe e à própria profissão. Vejamos os motivos do descontentamento actual.

Municipalização do ensino. Os professores temem ficar submetidos às burocracias camarárias, que passariam a superintender a educação, sem conhecimento da realidade educativa. Receiam, e muito, que os concursos de docentes se tornem municipais. A classe não confia em concursos de professores sob a alçada dos municípios.

Tempo de serviço não contado para progressão na carreira. Os professores nunca aceitaram que o tempo em que estiveram congelados não fosse contado para a sua progressão na carreira. São mais de seis anos. Os professores não pedem que lhes seja devolvido o dinheiro que foi cortado nos salários, apenas o tempo que trabalharam.

Estatuto da carreira docente. Na verdade, não há uma carreira docente. Um professor começa a carreira e acaba-a a fazer as mesmas coisas. A ideia de carreira foi um truque dos governos para evitar pagar ordenados decentes, tendo em conta a formação e o papel social dos professores, fazendo-os subir uma longa escada. Até 2005, um professor podia chegar ao escalão mais alto, se cumprisse tudo o que estava determinado, ao fim de 26 anos de profissão. Isto é, já próximo dos 50 anos. A partir de Sócrates/Lurdes Rodrigues, é aos 32 anos, embora muitos professores fiquem retidos muitos anos em dois dos escalões intermédios. A maioria não chegará perto do último escalão. Os docentes contestam também o modelo de avaliação docente, que, na opinião de muitos, e não sem razão, é fomentador de grandes injustiças.

Manutenção de muitos milhares de professores fora dos quadros. Apesar de as escolas estarem sempre a necessitar de professores, as vagas para aceder aos quadros abrem com muita parcimónia. Um truque para manter milhares e milhares de professores, os contratados, fora da carreira, o que implica salários ainda menores.

A concepção de escola dominante. Este não será o menor dos problemas. Aquilo que é exigido aos professores é muito mais do que ensinar alunos. Toda a vida escolar se tornou um imenso exercício de burocracia. Reuniões, planos, projectos, monitorizações, avaliações. Os professores gostariam de ensinar as suas disciplinas, mas isso é desvalorizado pelas políticas educativas. Os professores desejam concentrar-se no básico, ensinar alunos, o Ministério de Educação aposta em criar um inferno burocrático nas escolas.

Desde Sócrates e Lurdes Rodrigues que se anda nisto. António Costa e João Costa não são melhores. O desprezo dos socialistas pelos professores é total. Um dia estoira.