Título completo: Deus aposenta-se

Autor: Pedro Jordão

Colecção: Extra colecção

ISBN: 978-989-8812-79-7

N.º de páginas: 254

Preço: 15 euros

Disponibilidade: Disponível

 

Sinopse

“Quando eu era garoto, Deus era o Pai do Céu” – começa assim o primeiro de uma longa selecção de textos em que a figura/a personagem/o conceito Deus começa por envergar uma configuração paternal e superiormente protectora, que se vai degradando na imagem de um velho velhíssimo, gasto, estafado, desactualizado, ultrapassado, atingido pela idade da reforma. Figura de criação humana, tal como a figura jurídica da aposentação, a figura de Deus paira, ou intervém mais ou menos explicitamente, na quase totalidade dos textos. E se alguns textos iniciais se apresentam como pequenos contos bem humorados de feição marcadamente auto-biográfica, o biográfico genuíno não tarda a ceder o lugar “a uma aproximação melindrosa de um território de risco”  — onde há que afrontar uma série de ideias e preconceitos consolidados ao longo de milénios.

 

Nunca abdicando do registo humorístico, escreve o autor:

“Fui baptizado com muitas lágrimas, água benta e fralda molhada...

E o desagrado já manifestado no baptismo

com a choradeira abundante e a rega da fralda

não tardaria a evoluir

para outras formas de desagrado

sem recurso a líquidos orgânicos.”

Depois de uma variada série de textos em que a tonalidade dominante fere as teclas da ironia e de uma racionalidade que por vezes roça o absurdo  e se compraz no sarcasmo (exemplos: “A Feira Mundial das Religiões”, “A culpa é do hipossulfito”, “Brontogigaterius Execrabilissimus”, “O carro adiante dos bois”), seguem-se “A boneca de sal”, “O bangue”, “Deus aposenta-se” e “Zé-ninguém”, que fecham o ciclo. Este último, sobretudo, assume um registo de conclusão peremptória e inapelável.

“História de uma gotinha de água”, que sucede a “Zé-ninguém” e encerra a selecção, é como a coda de uma peça musical que nada acrescenta de novo e se limita a aflorar brevemente o tema já tratado. Neste caso, porém, a história da gotinha de água vai um pouco mais além: no ambiente diáfano das brisas e das nuvens estratosféricas, traça um desenho alegórico das incidências da vida humana e sugere um caminho alternativo incomum.