Permitam-me que as primeiras palavras sejam para apresentar o autor. Poderá parecer um atrevimento da minha parte, pois todos o conhecem, mas não posso fugir à tradição.

Em 30 de novembro de 1935 nasceu na Marinha Grande uma criança a quem foi dado o nome de Gabriel Paulo Ramos de Sousa Roldão, terceiro filho de Teotónio de Sousa Roldão, natural de Oliveira de Azeméis, trabalhando nas Fábricas do Covo e da Bhoémia, nesta localidade, e de Luísa Hermengarda da Rocha Gomes da Silva Ramos de Sousa Roldão. Os dois irmãos eram o João, que vive há muitos anos na África do Sul, e o Dr. Artur Roldão, já falecido, tendo deixado em todos os amigos uma grande e sentida tristeza.
O jovem Gabriel fez a Escola Primária na Marinha Grande, julgo não errar em duas escolas: a 1.ª e 2.ª classes nas antigas instalações da PSP, e a 3.ª e 4.ª classes na antiga Creche Pereira Crespo – hoje Junta de Freguesia. Na 3.ª classe, com o professor Esteves, e a 4ª classe, com a D. Júlia Matias que ainda é hoje uma referência para várias gerações de alunos.
Terminada a 4.ª classe, hoje dir-se-ia, 4.º ano, foi frequentar o Curso Comercial na Escola Comercial e Industrial da Marinha Grande, que terminou com aproveitamento.
Empregou-se no escritório duma empresa familiar durante 14 anos. Entretanto, chegada a idade do serviço militar, foi cumprir em Caçadores 5 e, depois, na Escola do Exército, em Lisboa, de 1956 a 1959.
Terminado o serviço militar, voltou ao anterior emprego, aproveitando para frequentar diversos cursos de formação profissional na área de produção de plásticos, o que lhe permitiu empregar-se numa empresa do ramo até 1970.
A partir daí e até 1989, foi empresário do ramo de Produção e Comércio de Plásticos.
Neste intervalo frequentou o Curso de Piloto Particular de Aviões (PPA) para monomotores até 5700 quilos, pela DGAC, com aproveitamento, desde 1978.
Participou, a convite da Secretaria de Estado do Comércio e do Instituto do Comércio Externo Português (ICEP), em diversas missões comerciais oficiais em Itália, Espanha, Alemanha, Canadá, Japão, Senegal e África do Sul.
Em 1983 foi convidado a participar na fundação do BCP – Banco Comercial Português, e em 1985 na Fundação da Companhia de Seguros Ocidental, Ramo Vida e Outros Ramos.
No ano seguinte participou na Fundação da National Factoring, uma associada do Banco Comercial Português.

– A Política –

Em 1995/1996 foi mandatário, no Concelho da Marinha Grande, da candidatura do Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva, à Presidência da República. Nas eleições Autárquicas de 1997 e 2001 foi eleito para o cargo de deputado à Assembleia Municipal da Marinha Grande, como independente, nas Listas do Partido Socialista.
Em 1998 foi nomeado pela Assembleia Municipal membro da Comissão de Toponímia do Concelho da Marinha Grande, cargo não remunerado, que desempenhou durante 6 anos.
Em 2005, na qualidade de independente, foi mandatário da candidatura do Dr. João Paulo Pedrosa à Presidência da Câmara Municipal da Marinha Grande, nas eleições de outubro desse ano, em representação do Partido Socialista.

– O Associativismo –

Foi fundador, em 1970, do Clube Automóvel da Marinha Grande; em 1998 foi fundador da LAMUV – Liga dos Amigos do Museu do Vidro; em 2001, foi fundador do Rotary Club da Marinha Grande, tendo sido eleito o seu primeiro Presidente; em 2004, foi eleito Presidente do Conselho Fiscal da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários da Marinha Grande e atualmente Presidente da Assembleia Geral da mesma Associação.

– A Cultura –

Publicou nos jornais e revistas locais diversos artigos de opinião e temáticos sobre a história da Marinha Grande.
Publicou, em 2000, o livro "100 Anos", comemorativo da celebração do 1.º Centenário da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Marinha Grande.
Publicou o trabalho "A Toponímia da Freguesia da Marinha Grande – Sugestões", em 2000, documento que foi aprovado pela Assembleia Municipal, para ser aplicado a nível do concelho.
Publicou cerca de 60 biografias sobre figuras marinhenses, que podiam ser homenageadas na toponímia, na "Agenda da Cultura Municipal da Marinha Grande", entre Janeiro de 2001 e Outubro de 2005.
Realizou diversos trabalhos de genealogia, investigando a origem de algumas famílias locais, colaborando com Luís Abreu e Sousa, outro estudioso da história da Marinha Grande, possuidor de inúmeros documentos, notável trabalho de heurística, mas que o trabalho o tem impedido de estudar, de interpretar e de publicar.
A partir destes estudos, recolheu ainda importantes documentos sobre a história da Marinha Grande que, a par de outros meios de investigação conseguidos, lhe permitiram elaborar um volumoso trabalho sob o título "Elucidário da Marinha Grande – Pereira Roldão – Velha Família da Marinha Grande", editado em 2009.
Em Janeiro de 2005, para alunos de um Colégio local, preparou o trabalho "A Vida, a Cidade, a Fábrica, o Pinhal e 3 Homens".
Em Março do mesmo ano preparou uma conferência para os alunos da Escola Secundária Calazans Duarte subordinada ao título "A Implantação da Indústria Vidreira na Marinha Grande".
Em Novembro de 2006 publicou, para uma conferência realizada no Rotary Clube da Marinha Grande, o trabalho intitulado "Marinha Grande na Ilustração Portuguesa 1910-1922".
Em 2013 publicou o livro "Ao encontro da Marinha Grande – Circuitos da Memória – Elucidário da Marinha Grande", que aqui nos trouxe.
Para finalizar esta "breve" biografia, resta dizer que reside em S. Pedro de Moel, que casou em 1963 com Albertina José Canário Barosa de Sousa Roldão, tem dois filhos, João Paulo e Maria Margarida, e cinco netos, João Rodrigo, Gonçalo Nuno, António Pedro, José Eduardo e Mafalda.

– O livro –

E agora vamos "Ao Encontro da Marinha Grande – Circuitos da Memória".
Assisti à apresentação de "Vários Circuitos" por amável convite da Direcção do Rotary. Sendo marinhense, quando as projecções acabavam só podia dizer: "Isto tem de ser publicado".
Entretanto, os anos iam passando, as apresentações, cada vez mais alargadas de circuitos, e eu ia dizendo sempre o mesmo, até que, finalmente, aqui temos os "Circuitos da Memória".
Mais um episódio, sobre o tema:
Em Outubro de 2006, recordam-se da situação em que as ruas do Centro da Marinha Grande se encontravam para a substituição dos canos de esgotos, das águas, do gás e não sei se também de alguns fios de electricidade. Estavam num caos: entre buracos fundos, havia caminhos muito apertados. O episódio foi o seguinte: o Sport Operário Marinhense tinha preparado um circuito pedonal, organizado pelo nosso escritor, com saída do Operário, descida para o jardim, Largo do Albuquerque, Luzeirão, etc., até Pedreanes, e regresso pela estrada dos 7 direito à FEIS, onde terminava o passeio.
O problema era que o autor, além de escritor, também era "pedreiro" e, ao tentar consertar uma telha ou qualquer coisa semelhante, acabou por descer mais depressa os degraus da escada do que levou ao subir.
Resultado: luxação no tornozelo, sem hipótese de andar nas próximas semanas.
Havia não sei se 50 ou mais pessoas inscritas, pelo que a Presidente do Operário, Dr.ª Leontina, e a Dr.ª Isabel Ferreira apareceram em minha casa, ao fim do dia, a pedirem a minha colaboração para acompanhar o grupo e dar as explicações históricas das ruas, dos locais, por onde íamos passar.
Evidentemente que a resposta só podia ser uma. E combinámos uma reunião no dia seguinte, porque "a priori" sabia que, com um numeroso grupo, era perigoso transitar por algumas ruas, como, por exemplo, no Largo do Albuquerque (Café do Atlético).
Alterámos ligeiramente o itinerário e lá fomos, cantando e rindo, numa passada atlética. As explicações eram dadas com um megafone, o que de início foi complicado, com uma mão para segurar o megafone, outra as folhas do itinerário, o que exigiu uma boa colaboração dos organizadores. Em Pedreanes, o Eng.º Octávio Ferreira deu as explicações dos Estaleiros e lá partimos direito à Cerca.
A organização providenciou uma viatura para levar os que estivessem cansados, ou mais idosos, insistindo toda a viagem para eu aproveitar a boleia, o que eu sempre recusei, pois era um homem.
Chegámos ao jardim da Fábrica, fiz a história da FEIS e foi cada um para casa, para o banho e almoço.
Sentei-me no sofá da sala e, quando a minha mulher me chamou para o almoço, é que vi como estava, com muita dificuldade em me levantar e os rins a dizerem-me: já não tens idade para estas coisas!
Um último episódio, que, em verdade, justifica a importância desta obra:
Quando um forasteiro nos aborda por um endereço, por ex., "Avenida da Indústria Vidreira", a primeira reação é aparentarmos que não estamos lembrados e indagamos qual é a finalidade.
Tratava-se da entrega duma encomenda num escritório. Não tivemos outro remédio senão pedir desculpa, mas não sabíamos onde ficava a avenida. Hoje já sei. Na rua de Vieira de Leiria, na Direcção da Fábrica de Vidros Gallo. Depois da sede dos Serviços Florestais, é a segunda rua (tem o nome de Avenida) do lado direito.
O caricato deste episódio é que todos os dias passava, e ainda passo, não com a mesma frequência, para ir buscar o meu neto ao infantário...
"Ao Encontro da Marinha Grande" é uma obra que deve fazer parte de todos os lares marinhenses: de fácil leitura, pode ser aproveitada para seguirmos as sugestões dos diferentes percursos.
São muitos os aspectos importantes que caracterizam a obra.
Literariamente, o autor fugiu, e muito bem, a preocupações poéticas, a devaneios literários, preferindo a objectividade, o que contribui para o interesse do livro.
Historicamente, não direi que seja o mais importante, porque todos são, é um tema que enriquece extraordinariamente o "Circuito da Memória". Em cada rua, ou avenida, ou travessa, há uma casa, ou houve, há um monumento, há uma história que, infelizmente, muitos marinhenses desconhecem.
Por exemplo, o edifício onde foi instalada a primeira Câmara Municipal e a data de 17 de Março de 1917, apesar de na parede ter sido colocada uma placa a recordar a efeméride da elevação a Concelho. Biografias de ilustres marinhenses que tiveram um papel importante na criação do concelho, no desenvolvimento das indústrias do vidro, dos plásticos dos moldes, da cerâmica.
Poetas, artistas plásticos, políticos, gente humilde ou gente abastada, escritores, historiadores, que os contemporâneos quiseram homenagear e que o tempo tem tendência a esquecer.
A Toponímia bem tenta recordar "aqueles que por obras valorosas, se vão da lei da morte libertando", mas, apesar de as placas assinalarem as ruas, uns recordam o nome, mas esqueceram a obra; outros, nem isso.
E este livro tem a história de todas essas figuras. Por isso todos os marinhenses devem tê-lo num lugar de honra nas suas casas, para recordar a história da sua terra e dar a conhecê-la aos seus herdeiros e amigos.
Ainda quanto à toponímia marinhense, podemos não estar de acordo com as mudanças de figuras antigas por outras modernas, porque precisamos de preservar o passado, mas é tema para outra oportunidade.
A Marinha Grande também prima por muitos lugares, perto de 30, e seria interessante apresentar a etimologia da toponímia desses lugares.
A toponímia é uma palavra de origem grega e tem duas componentes: TOPOS, que significa lugar, e ONOMA, que significa nome.
Gostaria de enfatizar uma vez mais, a riqueza histórica, literária, social, cultural da nossa terra – a Marinha Grande – revelada pelo Autor.
Intencionalmente, guardei para o final da minha intervenção o tema deste livro que considero da maior importância:
As fotografias das ruas, dos lugares que recordam o que foram e o que são, os estabelecimentos comerciais – as relojoarias – sabem quantos havia e quantos há (?), as livrarias e as papelarias onde comprávamos os livros e os cadernos escolares e, sobretudo, as fotos das personalidades que fizeram, que construíram esta terra as indústrias que prestigiam a Marinha Grande e o País.
Fotos que revelam o muito esforço que foi preciso para as encontrar, mas acima de tudo o carinho e o amor do autor pela nossa terra.
Felicito o autor por este trabalho, e o Rotary Marinhense pelo seu aniversário e pela iniciativa desta edição.
O património marinhense fica mais rico a partir de agora.
"Aristóteles sintetizou, num axioma célebre, esculpido no pórtico inaugural da sua Metafísica, que "todos os homens desejam naturalmente saber". "A cultura é a aristocracia do espírito".
VHB
2013ABR27