Pe. Pedro Lourenço FerreiraPatrício da Silva nasceu em Camarnal, Pinheiros, Leiria (15-9-1756).
O percurso académico de D. Frei Patrício começa no Convento de Santo Agostinho em Leiria, da Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho, onde fez os estudos básicos.

História da Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho
A Regra de Santo Agostinho, Bispo de Hipona, no norte de África (+ 28-8-430) inspirou muitas Regras de vida monásticas, como a de S. Bento, e deu origem a muitas famílias religiosas. Entre estas podemos referir as mais conhecidas:
1 - Cónegos Regrantes de Santo Agostinho (que entre nós fizeram história com a sua presença no Mosteiro de Grijó no Porto, sec. XI, no Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra, sec. XII, Mosteiro de S. Vicente de Fora em Lisboa, fundado por D. Afonso Henriques em 1147, e no tempo do nosso rei D. José, 1750-1777, estes cónegos substituíram os frades arrábidos no Convento de Mafra).
2 - Eremitas de Santo Agostinho, a que pertenceu Lutero, num tempo em que havia 2000 conventos desta Ordem, e a que pertenceu também o nosso Frei Patrício da Silva.
3 - Recolectos de Santo Agostinho, que resultam da reforma dos Eremitas de Santo Agostinho, no sec. XVI.
4 - Eremitas Descalços, que nasceram também da reforma dos Eremitas de Santo Agostinho, no sec. XVI.
O convento de Santo Agostinho de Leiria (1576) foi fundado pelos Eremitas de Santo Agostinho. Com frequência se encontra a designação de Eremitas Calçados de Santo Agostinho. Esta designação não é correcta, mas serve para distinguir dos Eremitas Descalços. O mesmo acontece com a designação de Carmelitas Calçados, que não é correcta, mas serve para distinguir da Ordem dos Carmelitas Descalços.

O convento de Santo Agostinho foi a casa da cultura humana e religiosa de Patrício da Silva. Habitava naquele convento D. Frei António de S. José, antigo frade daquela Ordem, bispo de Mariana no Brasil, relegado pelo Marquês de Pombal para aquele convento em Leiria. Patrício foi colocado ao seu serviço. A familiaridade com aquele bispo, a quem prestava serviços e recebia benefícios, tornou-se uma maior valia e factor decisivo na personalidade de Patrício. Do bispo terá recebido uma educação e uma formação que forjaram o perfil da sua pessoa. Dele terá aprendido o gosto pelas letras e a pela liderança. Um bispo exilado é um tesouro vivo e uma biblioteca de conhecimentos. Estes são os alicerces da personalidade de Patrício da Silva. Entra no Convento pela mão do bispo que o recomenda, tendo em conta as suas manifestas aptidões. Havia então muitos frades no convento e Patrício é enviado a Coimbra para fazer estudos na Universidade porque são manifestas as suas aptidões.
Em Coimbra Frei Patrício da Silva fez um curso brilhante que terminou com o doutoramento em Teologia (1785) e a regência duma cátedra. Lecionou nos Colégios da sua Ordem em Coimbra e Lisboa e professor no Seminário de Santarém. Cuidou muito do ministério da pregação, o que o tornou conhecido ao ponto de ser escolhido para pregador da Corte. Na qualidade de pregador régio proferiu a pregação na Real Capela da Universidade de Coimbra, por ocasião da exaltação de D. João VI ao trono do Reino. Este acontecimento pode ter sido o ponto de partida para a sua carreira na hierarquia eclesiástica (14-4-1817). No ano seguinte é nomeado bispo de Castelo Branco (13-5-1818), mas mas não chegou a tomar posse. No ano seguinte é escolhido pelo Rei para Arcebispo de Évora (3-5-1819) e o Papa confirmou a sua escolha (21-2-1820). Em Março de 1820 recebe o último vencimento como catedrático da Universidade de Coimbra. Tomou posse do arcebispado por procuração (19-4-1820) e foi ordenado bispo na igreja de Nossa Senhora da Graça, em Lisboa (30-4-1820).
Iniciou o seu ministério episcopal com uma Carta Pastoral de entrada na Arquidiocese de Évora, notável na forma e na doutrina, volume de 86 páginas, verdadeiro tratado de Religião e Moral (10-5-1820). Avisou o cabido de Évora da iminência da sua chegada (14-10-1820) e celebrou o primeiro Pontifical na Sé de Évora no dia de Todos-os-Santos (1-11-1820). Na Primavera do ano seguinte (1821) anunciou a visita geral à arquidiocese. No ano seguinte escreveu uma Carta ao Cabido sobre o juramento que se devia prestar à «Nova Constituição Política da Monarquia» por parte dos eclesiásticos com o argumento de que a religião católica era a religião oficial do país e que os acontecimentos governamentais tinham eco nas esferas eclesiais (4-9-1822). No ano seguinte é nomeado pelo Rei como membro da Junta que devia estudar a reforma da Nova Carta de Lei Fundamental da Monarquia (18-6-1823).
Após a revolta da «Abrilada» (30-4-1824), que pretendia a abdicação do Rei para se estabelecer o absolutismo, D. João VI mandou o seu filho D. Miguel para o exílio em Viena. Neste contexto de instabilidade política o Rei nomeia D. Patrício da Silva como Ministro e Secretário de Estado dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça (11-5-1824). Exerce este ofício durante cerca de um ano (15-1-1825). É durante este mandato que se elabora a «Carta de Lei» (1-6-1824) que convoca a Cortes os três Estados do Reino e D. Patrício da Silva é um dos responsáveis pela execução. Entretanto, o Papa Leão XII, a pedido do Rei, agraciou o Arcebispo com o título de cardeal-presbítero (27-9-1824). No ano seguinte D. Pedro é constituído Imperador do Brasil (29-8-1825), enquanto o seu irmão D. Miguel se encontra no exílio: o que enfraquece a Monarquia em Portugal. Neste ano morre o Cardeal Patriarca de Lisboa (14-12-1825) e D. Patrício da Silva, Cardeal Arcebispo de Évora, comunicou a sua transferência para o Patriarcado de Lisboa (24-12-1825). A nomeação real para Patriarca de Lisboa só aparece uns dias depois (2-1-1826), data em que D. Francisco começou a exercer a função de vigário capitular. Em cartas de Janeiro e Março o Papa Leão XII censurou o Cardeal Patriarca por ter iniciado o ofício logo após a nomeação régia e sem esperar a confirmação apostólica: “...Tivemos o desgosto de saber que vos haveis encarregado da administração da Igreja de Lisboa logo depois da nomeação régia, sem esperar a confirmação apostólica” (Fortunato de Almeida, História da Igreja em Portugal, Tomo I, da parte IV, página 45).
No ano seguinte o Rei adoeceu gravemente e constituiu um Conselho de Regência para governar durante a doença: Presidente, a Infanta D. Isabel Maria e primeiro Conselheiro D. Frei Patrício da Silva (6-3-1826). Poucos dias depois faleceu o Rei D. João VI (10-3-1826) e o governo do reino fica sob a regência da Infanta D. Isabel Maria. O Rei não deixou a indicação do seu sucessor que deveria ser ou D. Pedro, imperador do Brasil, ou D. Duarte, deportado no exílio. No exercício da sua missão, a Regência proclama D. Pedro IV como Rei de Portugal (20-3-1826). No dia seguinte (21-3-1826), D. Patrício da Silva transmite ao Cabido a forma de terminar a colecta da Missa: «Nosso Rei Pedro, Rainha e Príncipes...». Para o Cardeal Patriarca a decisão era a mais conveniente. No mês seguinte o Rei D. Pedro IV nomeou D. Frei Patrício para Par do Reino (30-4-1826) numa tentativa de estabilizar o governo da monarquia, cada dia mais fragilizada. Neste contexto, D. Frei Patrício publica uma carta pastoral e toma posição a favor de D. Pedro IV (23-8-1826). Alguns meses depois o Rei nomeia o Cardeal vice-presidente da Câmara dos Pares (31-10-1826).
A situação política vai alterar-se com o regresso do exílio a Lisboa de D. Miguel que assume a regência do reino (22-2-1828). O Cardeal Patriarca reconhece prontamente o novo regime e publica uma nova carta pastoral a reconhecer o poder vigente (9-6-1828) ainda antes de as Cortes aclamaram D. Miguel como Rei absoluto (11-7-1828). Durante os anos seguintes, e até 1834, D. Frei Patrício não foi incomodado pelos miguelistas devido à alta consideração que lhe tinham os absolutistas e liberais. Entretanto o estado do Reino agrava-se e D. Frei Patrício publica uma Carta Pastoral a mandar rezar por D. Miguel, qual «novo David suscitado entre nós pelo Céu misericordioso...» (19-9-1828). Cinco anos mais tarde o Cardeal Patriarca sente-se na obrigação de enviar uma outra Carta Pastoral a incentivar os fiéis à oração e penitência pela não extinção das Ordens Religiosas por D. Miguel (1833). O poder do Rei enfraquece e o Cardeal autoriza (23-7-1833) o clero regular e secular a armar-se para ajudar as tropas de D. Miguel contra as forças do Duque da Terceira. No dia seguinte (24-7-1833) o exército libertador entra em Lisboa e D. Maria II é aclamada Rainha. D. Frei Patrício não é incomodado devido à sua idade e às posições anteriormente tomadas. Dias depois o Cardeal publica uma Pastoral a todo o clero e fiéis sobre a mudança do governo em Lisboa e a restituição da autoridade de D. Maria II (30-7-1833).  
O estado decadente da economia do país e as novas ideias liberais levaram à extinção do Colégio Patriarcal de Lisboa (4-2-1834), do Seminário de Santarém (18-5-1834), das Ordens Religiosas 28-5-1834) e a incorporação na Fazenda Nacional para reforço financeiro do Estado e para usos civis. No meio desta grande confusão D. Frei Patrício retira-se para o Mosteiro de S. Vicente de Fora para evitar despesas e aí terminou os seus dias. Ainda baptizou o futuro rei D. Pedro V, segundo o antigo ritual dos baptizados reais (16-9-1837). Numa carta ao seu sobrinho (13-6-1838), chantre na Sé de Évora, escreveu: «eu continuo no triste estado de não poder andar sem auxílio». Frequentemente desabafava com os amigos: «Quando verei eu os portugueses unidos e amigos uns dos outros?». Faleceu com a idade de 83 anos (4-1-1840). A imprensa noticiou o acontecimento com estas palavras: «As letras perderam um sábio; a Diocese um pastor exemplar; os desgraçados um benfeitor». Foi sepultado na igreja de S. Vicente de Fora com as honras fúnebres devidas aos Príncipes.

A publicação desta biografia e os elementos apresentados abrem caminho a novos interesses culturais. Eu desconhecia esta ilustre figura da nossa terra. Graças a este convite, passei a conhecer o livro que li por três vezes. Para poder dizer o que disse senti necessidade de recorrer a outras publicações para situar o contexto histórico. Isto quer dizer que a presente publicação está chamada a abrir caminhos para novas investigações históricas. Precisamos de saber mais sobre os conteúdos pedagógicos da teologia do Doutor Frei Patrício da Silva na Universidade de Coimbra. A questão das nomeações dos reis e da confirmação do Papa tem no caso do nosso Patrício contornos especiais que merecem ser esclarecidos para salvaguardar a honra de pessoa tão ilustre que nunca se moveu por interesses de poder, mas que na realidade incorreu numa situação que a própria bula papal remediou com os meios de absolvição. A pertença à maçonaria precisava de ser esclarecida para evitar equívocos de interpretações modernas a acontecimentos do passado, muitas vezes forjados e falsificados. A conformidade do Cardeal Patriarca ao poder real e o seu pronto reconhecimento por meio de cartas pastorais, que recomendavam a obediência ao Rei, não são fraqueza eclesial ou acomodação ao poder estabelecido mas uma forma de ser da Igreja em qualquer regime político: o Cardeal terá ido até onde a sua consciência e as circunstâncias permitiram. A extinção das Ordens Religiosas em Portugal não foi resultado da sua política, mas situou-se num contexto de extrema pobreza material e espiritual do país. Nada pior que um reino dividido entre si. A grande preocupação pastoral de D. Frei Patrício consistiu em unir e ajudar as pessoas a serem amigas: «Quando verei eu os portugueses unidos e amigos uns dos outros?». Este assunto merecia ser estudado para se averiguar do contributo do Cardeal Patriarca à causa do povo em guerra civil e da Igreja desorientada no seu clero, devido à falta de bispos diocesanos e ao corte de relações políticas com a Santa Sé. Apesar das suspeitas de alguns historiadores, não estaremos nós perante um ilustre herói que ainda desconhecemos? Promovam-se os estudos em abono da verdade.

Pe. Pedro Lourenço Ferreira
Provincial dos Carmelitas Descalços
Sé de Leiria, 17 de Julho de 2009