No âmbito das comemorações dos 500 anos do Foral Manuelino de Maçãs de D. Maria (1514-2014), concelho de Alvaiázere, a respectiva Junta de Freguesia promoveu uma série de palestras alusivas à história local. No dia 22 de Fevereiro de 2015, o auditório da autarquia encheu para acolher três intervenções: a do Dr. Paulo Alcobia Neves, com “A importância das Cinco Vilas e Arega na história do naturalismo em Portugal”; a do Eng. Ricardo Charters d’Azevedo, com “Jornada de Manuel Severim de Faria a Maçãs de D. Maria, em 1625”; e a do Dr. Mário Rodrigues, com “Viagens e Comunicações pelas terras das Cinco Vilas”.
Na circunstância, o Eng. Ricardo Charters d’Azevedo lançou e ofereceu a todos os presentes um livro onde constava, a sua intervenção e um extenso anexo sobre Dona Maria Pais Ribeiro (a "Ribeirinha"), dama ligada às origens de Maçãs de D. Maria. Tem por título “Manuel Severim de Faria e a sua ida a Maçãs de D. Maria”, conta 96 páginas e foi produzido pela Textiverso.
Manuel Severim de Faria (Lisboa, 1583 ou 1584 – Évora, 1655) foi um sacerdote católico, historiador, arqueólogo, numismata, genealogista e escritor. Tendo nascido e vivido sob a monarquia filipina (1580-1640), foi notável figura da Igreja, insigne erudito, e deixou inúmeros textos de carácter religioso e laico. Muitos dos seus trabalhos não religiosos constituem documentos incontornáveis para o conhecimento da época, quer pela reflexão política neles expressa, quer pelo testemunho directo que constituem sobre aspectos culturais, políticos e do quotidiano da vida portuguesa. Exemplos destes documentos são os relatos das “jornadas”, sendo habitualmente considerado o primeiro cronista português de viagens e também o primeiro jornalista português.
O autor apresenta Manuel Severim de Faria de uma forma resumida, respigando o que outros autores escreveram sobre ele, mas incidindo principalmente na sua deslocação a Maçãs de D. Maria, que ele aproveitou não só para ver a sua irmã, que aí vivia, como para passar por locais marianos nos arredores de Maçãs, sem esquecer, no retorno a Lisboa, a passagem por Alcobaça e pelo santuário da Senhora da Nazaré. São particularmente incisivas as considerações que o clérigo tece sobre a forma de vida dos monges cistercienses no Mosteiro de Alcobaça. Ricardo Charters dá ainda nota da produção literária de Manuel Severim de Faria.
Mais de metade do livro, no entanto, é preenchida com três anexos. O primeiro é uma “Pequena memória sobre a descendência de D. Cristóvão Manuel, comendador de S. Paulo de Maçãs, que se casou em 2.ªs núpcias com uma irmã de Manuel Severim de Faria”. O segundo, muito interessante e pitoresco, é uma romântica “Notícia elaborada por Avelino Ferreira Pedro sobre A Ribeirinha”. Finalmente, o terceiro é uma “Pequena memória sobre a descendência de D. Sancho I e das de suas amantes”, entre elas D. Maria Pais da Ribeira, fidalga de grande formosura (era "branca de pele, de fulvos cabelos, bonita, sedutora", qualidades que encantaram o soberano e cativaram os nobres de sua Corte). É esta D. Maria que, como referimos atrás, dá nome à localidade.
A plateia prestou fina atenção às palavras do autor que tocou nas cordas sensíveis daqueles que se identificam com a história da sua terra.