Ele próprio escreve sobre os pais, Francisco Fernandes e Maria de Jesus Oliveira: «O Ti Francisco Moleiro e a sua esposa foram um casal de moleiros que, nos anos trinta, veio da freguesia do Olival, trabalhar para a moagem das Cortes, que à data era propriedade do senhor Charters a do senhor Pereira da Abadia. Eram pais de sete filhos, seis dos quais vivos, e posteriormente nasceram mais cinco (...). Como sempre quis ser homem honrado, depressa granjeou amizades e, como respeitava toda a gente, não havia quem não respeitasse o Ti Francisco da Moagem, pois foi assim que ficou conhecido nas Cortes. Também sabia trabalhar de ferreiro, que era o ofício de seu pai, mas uma fatia da sua vida foi trabalhar na actividade de moleiro em moinhos que arrendava, onde obteve profundos conhecimentos./ Depois de seis anos como empregado na Moagem, arrendou ao Dr. Cortez Pinto o moinho da Quinta da Jordôa e, ajudado pelos filhos, por lá ficou catorze anos e meio. Nessa época a vida era dura, e o Ti Francisco tinha nove filhos a criar. Enquanto os rapazes mais crescidos trabalhavam na agricultura por conta de outrem e as raparigas serviam em casas de famílias abastadas, os mais pequenos, com sacas de milho ou da farinha à cabeça, iam de lugar em lugar servirem os clientes, e quantas vezes de madrugada antes de irem para a escola.»
Era colaborador do Jornal das Cortes desde o n.º 1, de 5 de Dezembro de 1987, edição em que publicou o poema "Rio Liz", e, com raras excepções, participou em quase todas as edições, até Março de 2011, assinando frequentemente "Zeraskerda".
No n.º 3, de 5-02-1988, ele mesmo se apresentou, em versos que podem ser lidos neste livro. E acrescentou depois em prosa: «Dito isto, penso que grande parte das pessoas da freguesia [das Cortes] me conhece. Mas para melhor identificação vos digo que sou conhecido por Manel Moleiro, aquele rapaz pacato e sobretudo muito tímido que, há trinta e tantos anos, viam em cima duma carroça, quase sempre a ler o jornal, o que lhe valia ouvir da boca de certos ignorantes, que se julgavam inteligentes, frases como esta: «Ensina a mula a ler!»/ Nunca me importei com tais bocas, porque o meu gosto pela leitura me levou a aprender aquilo que sei e a compreender quem nunca foi capaz de me compreender.»
Foi casar aos Pousos (Leiria) e por lá ficou e teve os seus filhos, mas nunca "descolou" da terra adoptiva: «Saí das Cortes, é verdade, e estou grato à terra que me acolheu, mas tenho as Cortes no coração, e a prova está em que, com toda a minha boa vontade, estou pronto a colaborar no jornal que acaba de nascer, com as minhas crónicas ou com a poesia, assim os directores o aceitem.»
A sua dedicação à terra em que passou a meninice e a juventude, até aos 25 anos, ao serviço do pai, moleiro, ficou bem expressa na edição n.º 12, de 2-11-1988, com o poema "Cortes".
Era, com efeito, bem significativo o seu talento e a veia nata para os versos, que compunha de forma fluente e versátil, como se fosse fácil. Na nossa edição n.º 14, de 2-01-1989, dá-se notícia do "Sarau Cultural e quadras populares", realizado a 8 de Dezembro de 1988. Justamente no concurso de Quadras Populares, promovido pelo jornal, Manuel Fernandes foi o vencedor com uma quadra muito interessante.
Homem sempre ligado às coisas da cultura, sobretudo nos domínios da representação teatral, em particular nas Cortes, fundou e integrou aqui o grupo teatral dito Grupo Dramático "Os Artistas do Lis", activo pelo menos em 1954. Mas foi depois colaborador assíduo da colectividade mais representativa dos Pousos, o GRAP, no teatro e em todas as actividades que ali eram desenvolvidas. Alguns dos seus versos foram aproveitados (às vezes mesmo encomendados) por alguns cantores e cantoras da região, sendo também utilizados em Marchas Populares.
A sua ligação à cultura advinha também de uma rara propensão para a escrita. Foi colaborador assíduo do mensário dos Pousos designado O Bailadoiro, constituído em 1983. E, depois, a partir de 1987, do Jornal das Cortes, onde, para além dos versos, publicou contos de Natal, comentários e até reflexões sobre a escrita com uma série de "Lições adoc". Em 1990 viria mesmo a publicar um livro de versos, com o título "Baile de Filosofias", assinado Manuel Moleiro e edição de sua responsabilidade, com prefácio de Carlos Fernandes. Consta de 120 quadras de gosto popular e de 12 poemas glosados. A ele fez referência o Jornal das Cortes na sua edição n.º 38, de 7-01-1991.
A sua última intervenção foi na edição n.º 280, de 5 de Março de 2011, com o poema "Estações da Vida".
Faleceu no dia 17 de Maio de 2012, terminando, pois, a sua viagem, "breve", de 78 anos. O Jornal das Cortes não tem dúvidas que o seu contributo para o enriquecimento das suas páginas é inquestionável.
Profissional da indústria de plásticos, Manuel Fernandes estava já aposentado aquando do seu falecimento. Era viúvo de Beatriz Monteiro e pai de dois filhos, Ema Maria Monteiro Fernandes e Nuno Manuel Monteiro Fernandes. O livro "Escritos de Manuel Moleiro, agora editado, perpetua, para os seus filhos e netos, e para todos os que com ele de perto viveram, a memória do seu talento, do seu empenho constante pela cultura e da sua generosidade.
- Baile de Filosofias (1990), ed. do Autor;
- Escritos de Manuel Moleiro (2012), ed. "Jornal das Cortes".