Recreio de memórias é o título do último livro do Dr. Fernando Manuel Brites, do Soutocico (Arrabal, Leiria). Tem 612 páginas, é uma edição restrita do autor e foi produzido pela editora Textiverso, de Leiria.

O lançamento deste extenso trabalho foi feito no Clube Recreativo e Desportivo do Soutocico (de que foi um dos fundadores) no dia 23 de Janeiro de 2016, durante um almoço de familiares e amigos que reuniu cerca de 80 convivas. A apresentar esteve o próprio editor, Carlos Fernandes.

Depois de referir a já notável obra escrita de Fernando Brites, o apresentador salientou justamente a sua «experiência muito significativa neste mester de escrever, até pelo hábito salutar de sempre tomar notas dos acontecimentos». Sem desvalorizar a sua produção global, considerou “Vozes no Charco” e “O último patamar” «trabalhos de muito mérito que valem por todos». Especialmente «porque são o fruto de uma vivência muito intensa e vibrante e a leitura atenta e lúcida dos acontecimentos».

 

Quanto a este “Recreio de memórias”, que o autor classifica de “narrativa”, ele próprio escreve que «não tem pretensões a ser uma autobiografia, pois obedece a um estilo de escrita diferente, tratando-se antes de uma espécie de quase-diário, mais intimista, preocupando-se apenas o autor em colher as suas memórias, sem receios, pois, como dizia Pablo Neruda, é proibido (…) ter medo das suas lembranças.» Fernando Brites entende que «as mais longínquas serão um tanto difusas, logo menos densas, e naturalmente há outro rigor e precisão na busca das mais recentes», sendo «lógico que os factos mais marcantes da sua existência fluam com outra profundidade». Confessa que, «ao franquear o baú de recordações, tem (...) plena consciência do risco, mas saberá aceitar com humildade a crítica que lhe subjaz».

Carlos Fernandes disse ainda: «É uma narrativa quase biográfica, sim. Mas não no sentido de elevar de forma narcisista o ego do autor. Que não é o único protagonista. Há neste longo texto de 612 páginas um conjunto de histórias tão diversificado que o autor, às vezes, parece somente mais um protagonista entre todos os que dão corpo à narrativa.

E, à medida que se lê, percebe-se que o tom pícaro não deslustra o ar sério das questões, que a história divertida ou anedótica não se opõe aos episódios trágicos, que o ar bonacheirão de um engate oportuno não coíbe o sentido responsável do profissional.

É importante ainda sublinhar o olhar atento que o autor põe no mundo que o rodeia, assinalando, de par com a sua pequena/grande história pessoal, os acontecimentos que, a nível nacional ou internacional, vão marcando o compasso da história.» E acrescentou: «Este tipo de narrativas é sempre de uma importância capital para compreender o nosso pequeno mundo, aquele mundo à escala da nossa terra ou da nossa população. É nestas narrativas que, às vezes, se encontra a chave para alguns enigmas. E se não forem aqueles que conhecem as coisas por dentro a deixar escrito como se passaram, nunca mais ninguém atinará com a resposta.»

Em termos de estrutura, Fernando Brites alinhou a sua narrativa por décadas, de forma cronológica, e até facilitou a vida ao leitor ao sintetizar, num epílogo em jeito de reflexão, o que cada década mais significou para si.

Pelo meio, a narrativa vai sendo temperada, ou ilustrada, ou matizada, ou enriquecida, ou tudo isso ao mesmo tempo, com poesia, muita poesia, reafirmando os seus dotes poéticos e a sensibilidade que, afinal, perpassa por todos os seus escritos.

Neste livro, o autor salienta «como são tão importantes as coisas simples da vida, aprender a vivê-la, recreá-la e preenchê-la com qualidade e intensidade, sem jamais abdicar da sensibilidade, do conhecimento, da observação, da leitura e da pesquisa e chegar ao horizonte dos dias, com aquela sensação extraordinária de ter sabido viver, vivendo intensamente cada momento como se fosse o último, não vegetando simplesmente, vogando ao sabor amargo de uma breve e anónima passagem, sem ter gozado a vida na sua plenitude.»