A Sociedade Artística e Musical Cortesense (Leiria) celebrou os seus 130 anos em 2008. No âmbito dessas comemorações, foi lançado o primeiro volume da história da Filarmónica das Cortes, da autoria de Carlos Fernandes. O título é exactamente "Filarmónica das Cortes - Volume 1 - Da fundação às vésperas do Centenário". A apresentação foi feita pelo músico e musicólogo Paulo Lameiro no dia 19 de Outubro, à tarde, nas instalações do GDRF - Grupo Desportivo e Recreativo de Famalicão (Cortes).
Edição conjunta da Filarmónica e da editora Textiverso, este livro tem 450 páginas e representa a primeira parte de um estudo desenvolvido por Carlos Fernandes desde há cerca de 30 anos.
Paulo Lameiro, que tocou na Filarmónica das Cortes durante dois anos, considerou ser «um livro que nos apaixona» e sublinhou três aspectos dele: 1- «Foi escrito como quem escreve sobre o seu filho, mas não esquecendo que é um cientista e, portanto, os dados têm que ser objectivos.» 2- «Conta que esta agremiação musical foi capaz de ultrapassar mil problemas na sua história - as guerras, a emigração, as lutas internas, as relações com a freguesia, com o pároco, com os outros lugares e com as outras filarmónicas. É uma cartilha e uma lição de sobrevivência de uma banda filarmónica.» 3- «Não é um livro importante só para as Cortes: qualquer dirigente de uma filarmónica deve ler este livro de A a Z porque aprende imenso sobre estas instituições e encontra aqui muitas soluções históricas. Por outro lado, também serve a investigadores que precisam de aprender mais acerca destas instituições, para as poder ajudar, para as poder compreender melhor.»
Sobre o conteúdo deste livro de 450 páginas, deixamos um pequeno excerto do Prefácio:
«Sendo os arquivos parcos em documentos, especialmente no que respeita aos primeiros 40 anos de vida desta Filarmónica, tradicionalmente fundada em 1878, mas com escritura oficial apenas em 1881, veremos que o volume de informação para esse período é relativamente restrito e fraccionário, não proporcionando mais do que uma imagem parcelar (...). Em todo o caso, pensa-se ter reunido um conjunto de elementos que, globalmente, deixam da Filarmónica das Cortes um retrato bem mais próximo do que ela foi na realidade, não só para esse período, mas também para o período que vai depois de 1922 a 1977, no qual também se constatam alguns hiatos em termos de arquivo.
«Neste primeiro volume, e ao longo de 12 capítulos, fica uma perspectiva do que foram os primeiros cem anos da Filarmónica das Cortes. E depois de uma preciosa introdução de Paulo Lameiro sobre as origens e motivações das Bandas Filarmónicas, entra-se na matéria propriamente dita com a constituição da Filarmónica e a sua vida nas duas primeiras décadas, até ao início do século XX. A seguir faz-se o trilho até à implantação da República, em 1910, e tacteia-se o período obscuro da 1.ª Grande Guerra. Outro capítulo aborda a arrancada decisiva para o século XX, em 1922, detendo-se na vida relativamente pacífica da colectividade no período da 2.ª Guerra Mundial. Os anos 50 são mais complexos, e a Filarmónica chega a falir, mas recupera-se o ânimo nos anos 60, não obstante a emigração e a guerra colonial. O tempo, contudo, evolui, e os gostos musicais também - o aparecimento dos conjuntos de música rock questiona a presença das filarmónicas nas festas de arraial e suscita uma importante discussão sobre o seu futuro. A revolução de Abril, em 1974, estabelece definitivamente a ruptura: as filarmónicas vão ter que se adaptar, e a das Cortes, com o seu Coro e Orquestra, cria as bases para uma nova era, com músicos mais preparados musicalmente e dirigentes, técnicos e administrativos, com uma perspectiva cultural mais dilatada. É precisamente com uma lista dos Dirigentes e Mestres dos primeiros cem anos que se encerra a primeira parte deste volume que termina com um importante Anexo Documental onde o leitor encontrará a transcrição integral dos documentos fundamentais da Filarmónica, desde as escrituras aos estatutos, passando por actas, contas, inventários e entrevistas.
«Um segundo volume, a publicar oportunamente, fará o historial da Filarmónica desde o Centenário, em 1978, à actualidade, o que, em face de muito mais informação disponível, dará tantas ou mais páginas do que as que enformam o presente. (...)»