Cumprimento e dou as boas noites a todos! É um privilégio estar aqui convosco, reconhecendo em cada um de vós (muito por causa deste 1.º romance do Jaime) uma pessoa única e irrepetível no Universo.
Antes de mais, um sentido agradecimento ao Jaime suportado em dois factos:
Não sendo eu especialista em nada é para mim uma honra o Jaime ter-me convidado para apresentar este seu romance. Querer-me assim, nesta minha condição, revela que leva em conta e valoriza a opinião de pessoas simples que apenas transportam consigo aquilo que na vida fizeram com o que herdaram dos seus pais, da sua família, da sua comunidade.
Honra-me também um segundo facto – o de esta apresentação decorrer ligada à Associação Fazer Avançar. Sendo eu uma crente militante no poder dos jovens para transformarem o mundo num mundo melhor, sinto-me reconfortada por estar aqui.
Confesso que perceciono até esta situação como quase uma dádiva do divino! Eu, que passei a vida a ser criticada pelas minhas crenças “Rousselianas” – a quem a Ciência ainda não conseguiu demonstrar que haja alguma criança ou jovem que não valha a pena –, eu hoje estou aqui envolvida por uma amorosa culpa do Jaime, com jovens que são, ao mesmo tempo, arquitetos e operários da maravilhosa construção de um mundo em evolução!
Como nota introdutória quero dizer-vos que não vou nunca identificar os personagens desta trama. Nela há mulheres e homens bons e outros ainda num estado muito embrionário da evolução da condição humana, e não quero que os conheçam através de mim! Eles ficarão comigo, em segredo! Ficarão, num enredo cheio de mistérios e sedutores secretismos, nas hostes dos invasores franceses, por entre os (na altura) amigos ingleses, nos corredores da igreja católica, nas ruínas de Leiria ou nos campos, na tasca, numa loja maçónica, ou em casas de família da localidade Fontes! Eles estarão lá, à vossa espera, prontos para se darem a conhecer e vos revelarem os seus segredos!
Quando terminei a leitura do romance “Fontes de Guerra, Fontes de Paz”, enviei um “mail” ao autor. O Jaime que me perdoe a inconfidência, mas no mail eu dizia isto:
«Hoje estou mais rica e inunda-me uma serenidade que me põe em paz com o cosmo.»
Nem que seja por um breve instante… quem de vós não quererá sentir esta paz? Quem não quererá sentir-se assim?
Digamos que uma vezes parecendo-me realista, outras vezes naturalista, esta trama histórica capturou-me toda inteira para uma época, cheia de mistérios, que, apesar de não ser a minha, porque fala de lugares meus e coisas minhas, eu entendi. Escrito na língua dos sentimentos e emoções, afinal a única verdadeiramente percetível e falada por todos os seres humanos, gostei de habitar este romance e confesso que ando a sentir-me incapaz de dele sair…
A ideia de “homem-árvore” nele referida, não mais me deixou…
E, curiosamente, terminada a leitura do livro “Fontes de Guerra, Fontes de Paz”, foi como um “romance- árvore” que ele quase se materializou no meu pensamento. Porquê?
Porque ao ser levado a sério por quem o lê, esteja esse alguém em qualquer lugar ou situação, o convida e motiva a organizar a sua vida e a interferir na vida dos outros com ações alicerçadas em “raízes” feitas de valores “Éticos, Morais e Solidários”.
Com este Romance-árvore iniciei uma viagem… improvável! Fui de fora para dentro da condição humana: estive nas suas folhas, maravilhei-me com a cor e sabor dos seus frutos, empoleirada nos ramos vi outras árvores com diferentes raízes, flutuando nas suas seivas, umas vezes suavemente, outras em turbulência, desci pelo tronco, e sã e salva, mais forte e resiliente, integrei-me mas suas raízes, afinal, a fonte de quase tudo: os valores!
Percecionei este romance-árvore com um DNA construído em ligação com o cosmo!
Ao longo da leitura, o que está escrito modela a nossa forma de ler este romance e motiva-nos a:
Reservar um tempo da nossa vida para praticar o silêncio, simplesmente de ser;
A meditação;
O não-julgamento!
Estive neste romance-árvore, na sua raiz feita de valores e que, por isso, não se deixou parasitar por interesses egoístas e contrários ao bem…
… Desta raiz surgiu um tronco construído por homens livres e solidários que, permanentemente, a foram robustecendo, acolhendo outros homens bons, todos imbuídos no propósito de, na sua comunidade, praticarem o bem. Homens, com variadas profissões, credos diferentes e diferentes ideologias, mas assumindo-se como permanentemente incompletos num universo em evolução. Homens, operários incansáveis na procura da perfeição… sentindo-a ainda sempre distante de si! E neste livro eu vi, eu emocionada senti … o valor dos seus valores, nas suas obras e ações.
Ao longo da leitura percebi como, com homens livres e verdadeiros que sentem como dever o respeito pela liberdade e verdade dos outros, se pode unir o que é diferente e diverso. Protegidos pela opacidade das folhas, no romance feitas de silêncios cúmplices e segredos bem guardados, os ovários das flores foram sendo fecundados por grãos de pólen feitos de verdade, de justiça, de solidariedade! E dessas flores surgiram os frutos: as decisões e ações que, arquitetadas e geradas por homens e mulheres, se destinaram a satisfizer as humanas necessidades de também outros homens e mulheres... Destinadas a satisfazer, afinal, as necessidades humanas:
de proteger e de ser protegido;
de materializar o amor, entre amantes;
a necessidade de consolar e ser consolado;
a necessidade de reconhecer a liberdade dos outros sendo livre;
a necessidade de justiça e verdade;
a necessidade de amar e de ser amado;
a necessidade de interferir e construir a vida para que a morte não seja apenas um fim!
Confesso que este romance-árvore me obrigou, ao longo da sua leitura, a múltiplas reflexões:
O que nos leva a praticar nas nossas vidas a justiça, a verdade, a solidariedade?
Será por vaidade? Para mostrarmos aos outros que somos boas pessoas? Por pena ou compaixão? Ou será porque tal é sentido como um dever nosso, enquanto grãos de areia de um universo condenado a evoluir? Por que será?
No trabalho de preservação ou resgate dos valores, serão só as palavras suficientes?
De quem a responsabilidade de educar para e pelos valores? Será que ser só da família basta?
Como educar homens e mulheres, todos eles, quando o que se propõe para aprender não se vê, e a ciência não consegue provar e explicar a sua existência?
De facto, “a fé sem obras é morta” e nas obras das mulheres e homens bons deste romance eu descobri que a fé não tem que ter uma qualquer religião. Numa simbiose perfeita, ela está e revela-se nas ações de qualquer homem ou mulher… de bem!
Confesso que este romance chegou à minha vida para me pôr em paz. Não raras vezes sou assolada pelo medo da incerteza. Afinal, essa incerteza de que Edgar Morin nos fala como sendo a única certeza das nossas vidas!
“Fontes de Guerra, Fontes de Paz” aquietou-me porque nele eu encontrei uma certeza! Uma certeza que emerge da liberdade que cada um tem para escolher os valores que hão-de nortear as suas vidas. Valores que se configuram como armas poderosas para combater com sucesso, na vida das pessoas, os efeitos dessa temível incerteza. Os valores sabem como tratar a guerra, a doença, a injustiça, a maldade e todo o seu contrário. Os valores são ferramentas intemporais da evolução, tornam forte e resiliente quem deles, nas suas vidas, faz uso…
Valor que eu vi nalgumas/nalguns personagens deste romance e que os condicionaram a agir para tornar: mais leve o sofrimento dos outros; para não ser em vão o sofrimento que se sente!
E como se eu fosse um inseto alado, foi assim, durante a leitura deste romance-árvore, que eu fui voando e, sem querer, não raras vezes saí dele, voei da sua época para a minha, voei das terríveis invasões francesas para as não menos terríveis invasões dos mercados agiotas da atualidade, do sofrimento provocado pela inumana inquisição da época, para a inumana pobreza, multifacetada, que alguns de nós sofrem, ainda, na atualidade…
Li, uma e mais vezes, este romance, li avidamente tudo, desde as dedicatórias do autor à mulher da sua vida, aos seus pais, aos seus filhos, li e emocionei-me até à última página e concluí tratar-se, este romance-árvore, de um sério romance de amor. De amor incondicional pelo outro, seja esse outro o nosso amante, um nosso conhecido ou não, seja um qualquer de nós!
No final, transportando-o comigo, mas já poisada de vez nesta época que é a minha, eu aceitei, com serenidade, todo o espetro comportamental da condição humana. Apalpei os bons efeitos das ações geradas em valores e… apercebi-me da minha incompletude feita de utopias que não têm de o ser!
Fiquei, com este romance “Fontes de Guerra, Fontes de Paz”, mais rica, mais forte, em paz com as leis do Universo mas (pasme-se)… fiquei também com ele, com o que ele me ensinou, inquieta comigo…
Por isso, Jaime, obrigada! Este teu romance anda a ajudar-me… na minha construção… faz-me valer a pena…
Desejo, para terminar, que muitos venham também a sentir-se como eu, em paz com o Universo mas… inquietos e, por isso, na vida, eternamente, em autoconstrução!
Leiam o romance, sintam-no, e garanto-vos que tal é possível!
Amélia do Vale
Leiria, Mercado de Santana, 20 de julho de 2013