[Ode an die Freude / Hino à Alegria, Nürnberg, 2014]

[Ode an die Freude / Hino à Alegria, Nürnberg, 2014]

                      

Premissas para a construção da identidade europeia

por

Ana Isabel Marques

 

Os dias que correm, em que somos literalmente esmagados por crises económicas, crises de refugiados, ataques terroristas, que saltam sucessivamente para as páginas dos jornais consoante o surto de que somos acometidos no momento, provam-me à saciedade a importância das questões culturais, porque é minha convicção que por detrás da endémica crise nacional e da já chamada derrocada da Europa está uma profundíssima crise identitária das nações e do continente que poucos souberam atempadamente diagnosticar. É, por isso, que se torna tão difícil (se não mesmo impossível) encontrar a curto prazo uma resposta rápida e eficaz para os problemas que nos assolam actualmente.

          É antigo (e legítimo) o sonho europeu. Outros melhor do que eu (e seguramente mais habilitados) conseguirão reconstituir essa história e organizar a sua cronotopia. Trata-se (dirão muitos) de uma manta de retalhos e de um aglomerado de culturas, povos e nações, e, por isso mesmo, de um conceito dotado de uma diversidade que inviabiliza à partida quaisquer projectos unificadores. E curiosamente os tempos parecem dar-lhes razão. Não poderia, no entanto, estar mais convicta de que se trata de um falso pressuposto. Subjaz à realidade europeia uma diversidade cultural tão visível nesse espaço continental quão visíveis são as diversidades culturais dentro de um mesmo território nacional, entre o norte e o sul de qualquer país. O enfoque dos projectos de unificação deverá ser, pois, nas semelhanças e não nas diferenças. E a Europa tem essas semelhanças. Subjaz-lhe um conjunto de valores e princípios que estruturam e moldam os cidadãos europeus. Liberdade, igualdade, fraternidade, solidariedade, amor ao próximo, tolerância e respeito pela pessoa humana são princípios que nos são incutidos desde o berço. Trata-se de valores que integram o património imaterial da cultura ocidental. (Desengane-se quem pensa que são valores cardinais em todos os pontos do globo).

       

Ana Isabel Marques