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Um ramo não faz uma árvore:  a força do espírito de equipa

( Apresentação do livro Era uma vez... e a história continua...)

por Ana Isabel Marques

 

Não constitui nenhuma novidade o facto de os encarregados de educação terem uma palavra na vida escolar dos filhos (por exemplo, para se inteirarem do rendimento escolar, de questões comportamentais). O que constitui uma novidade e uma das mais-valias da escola Casa da Árvore é o facto de, de forma consistente e estruturante, integrar os pais (e as famílias) na dinâmica de aprendizagens da escola. As famílias são convidadas a partilhar, no espaço escolar, os seus saberes, que podem ir desde os conhecimentos profissionais, numa óptica de articulação com os conteúdos do programa, aos saberes mais informais, mas igualmente valiosos, aquilo que constitui o legado familiar. Essas aprendizagens e essas formas de aprender são preciosas.

Porque as famílias (independentemente da sua estruturação) são as células da nossa sociedade e redutos da nossa identidade (sendo elas que nos transmitem os princípios estruturadores do nosso EU), este momento de partilha dos saberes de cada família só pode constituir um momento de enriquecimento pessoal e social enorme.

Para além disso, são momentos promotores da auto-estima das crianças (que vêem com orgulho os seus familiares a transmitir ensinamentos aos outros meninos) e da sua auto-confiança (pois vêem o espaço da escola tornar-se uma extensão da própria casa). Estes momentos das famílias tutoras são, por isso mesmo, não só momentos de transmissão de saberes, mas também de afectos.

Na sua essência, a transmissão de saberes não tem, nem deve ter, a solenidade de uma cátedra. Uma simples história, uma canção, uma receita culinária, o interesse pelo desporto, pela rádio, uma paixão por jardinagem, por lavores, tudo isso constitui aprendizagens de uma valia inexcedível que devem ser partilhadas, não só por pais e mães tutores, mas por famílias tutoras. Porque é aí que está a riqueza maior da nossa identidade e da nossa sociedade. As actividades das famílias tutoras constituem também um exercício de cidadania.

Enquanto mãe-tutora, decidi partilhar com os meninos da Casa da Árvore […] o enorme gosto que tenho pela nossa língua e pelos livros. Foi por isso que, no dia 23 de abril, Dia Mundial do Livro, desafiámos (tive a conivência incondicional das professoras) a editora Textiverso a mostrar à Casa da Árvore como é que nascem os livros e, numa atitude de uma enorme abertura e de rasgo editorial (porque os grandes gigantes do sector não tem a abnegação económica, nem a sensibilidade educativa para criar espaço a estes projectos), a Textiverso propôs aos alunos serem autores de um livro.

Vou só como mãe tutora dar testemunho daquilo que vi:

  1. Vi crianças empenhadas no desafio proposto;

Crianças profundamente responsáveis e conscientes do compromisso assumido;

Crianças entusiasmadas com a escrita e com projetos editoriais;

Crianças (autores) que me emocionaram pela autenticidade daquilo que escrevem. Pela pureza da imaginação em estado bruto. E falo de todas e cada uma delas sem excepção.

Vi professoras-tutoras com o mesmo entusiasmo dos seus alunos.

Com uma enorme capacidade de trabalho.

Um espírito de equipa e de cooperação.

Uma abertura ao diálogo e à troca de ideias (rara, mesmo muito rara, nos dias que correm, em que os egoísmos e os egos pessoais matam à partida projetos muito validos)

Vi profissionais cumpridoras de prazos e das metas estabelecidas.

(Por todas estas razões, com a sua forma de actuar, as professoras da Casa da Árvore deram um exemplo fantástico aos nossos filhos.)

  1. Vi um diretor de uma generosidade enorme, que, sem hesitar, abraçou a ideia e que, de coração aberto, encorajou, incentivou (e não exagero se disser que por vezes se emocionou).
  2. Vi uma editora que alinhou os carris num tempo recorde permitindo que a viagem chegasse a bom porto. Testemunhei a dedicação, o empenho pessoal e o gosto com que editaram este livro.
  3. Vi também a bagagem que estas crianças levavam e não posso deixar de mencionar a dinamizadora da biblioteca da Casa da Árvore, que muito contribuiu para desenvolver nelas o gosto pelos livros.

Tudo isto me ensinou ou reforçou uma convicção que há tanto tempo me acompanha: de que, com empenho e entusiasmo, com trabalho e foco, com uma meta comum (sem ânsias de protagonismos), somos capazes de chegar onde nem imaginávamos.

Como mãe, como professora, como cidadã, que pena tenho que este país não esteja cheio de Casas da Árvore. E com percursos escolares mais dilatados (2º e 3º ciclo). Lanço, pois, aqui o repto. Porque também nos compete a nós pais querermos o melhor para os nossos filhos. E porque é minha convicção que esta é a escola do Futuro e que está aqui o Futuro da Escola.