Os Encontros de “Olhares Queirosianos”, promovidos pela Junta de Freguesia de Leiria, com o apoio de várias entidades, têm por objectivo «retratar a época em que Eça de Queirós viveu em Leiria». Foi nesta cidade que, a 30 de Junho de 1870, Eça de Queirós, um jovem de 25 anos, tomou posse no cargo de Administrador do Concelho, regressando à capital em Maio ou Junho de 1871, depois de ter prestado provas no Ministério dos Negócios Estrangeiros. «Permaneceu, portanto, cerca de um ano nesta cidade, mas o tempo suficiente para a imortalizar num dos seus romances.»
O III Encontro de “Olhares Queirosianos” decorreu no dia 4 de Junho de 2011 e constou, na sua essência, de um almoço queirosiano, no restaurante Porto Artur, em Leiria, e da teatralização, pelo Grupo Te-Ato, de excertos da obra “O Crime do Padre Amaro”, de Eça de Queirós. Após o almoço, foi apresentado ao público um roteiro da cidade, com referências de Eça, da autoria da Dra. Ana Margarida Dinis Vieira e com o título “A Leiria de Eça da Queirós – Guia da Cidade”, edição da Junta de Freguesia de Leiria, com produção da Textiverso.
Na apresentação do Guia esteve o Dr. Orlando Cardoso, desde longa data um estudioso empenhado do escritor. Com ele estiveram na mesa a Autora, a Presidente da Junta de Freguesia de Leiria, Laura Maria Esperança, o representante do Rancho da Região de Leiria, José Vaz, o “próprio” Eça de Queirós, através de um actor do Te-Ato, e o representante da Textiverso, Carlos Fernandes.
Numa mesa improvisada na esplanada do restaurante, numa das travessas entre a Praça Rodrigues Lobo e a Rua Direita (Rua Rodrigues Cordeiro), e tal como já anotara no Prefácio, Orlando Cardoso sublinhou as marcas decisivas que Leiria deixou na obra de Eça, avultando, como é sabido, o romance “O Crime do Padre Amaro”, «um dos livros mais notáveis da literatura portuguesa, que tem como cenário Leiria e arredores, assim como algumas personagens que por cá viveram». E acrescentaria: «São estas marcas queirosianas que a investigadora leiriense, Ana Margarida Dinis Vieira, nos revela com o Guia que agora nos oferece. Nele encontramos os locais que Eça percorreu no seu “exílio administrativo”, recriando o seu labor diário e os seus passos ao longo das ruelas do centro histórico.» Concluiria observando que este Guia Queirosiano vem enriquecer o património da cidade e a oferta cultural aos que a visitam.
Ana Margarida Dinis Vieira, leiriense natural dos Marrazes, que já no encontro de 2009 apresentara o seu estudo e tese de doutoramento “As Vertentes do Olhar na Ficção Queirosiana”, congratulou-se com esta iniciativa da Junta de Freguesia de Leiria de editar um Guia da Cidade sobre o Eça, mas sobretudo com a sorte de Leiria ter tido «como residente um dos mais conhecidos e talentosos romancistas portugueses». Na sua apresentação, Ana Margarida diria ainda: «O Guia da Cidade dedicado a Eça de Queirós é, sem dúvida, uma referência para Leiria, para os leirienses e para todos aqueles que continuam a admirar um romancista polémico, mas com uma capacidade de análise, uma ironia inigualável e um estilo único.» Num passeio pela cidade, como o que é proposto por este Guia, é também possível identificar, claramente, os locais mais relevantes do seu romance, pelo que a realização de um percurso queirosiano nos mostra como Eça conhecia bem os espaços descritos e o ambiente provinciano e beato da época. Actualmente a exercer a docência em Santarém, Ana Margarida Vieira tem previstas outras publicações, como “O Olhar na Construção d’O Crime do Padre Amaro” e “O Silêncio na Ficção Queirosiana”.
A Presidente da Junta agradeceu à autora a concepção deste Guia e a receptividade que ele teve entre os participantes no III Encontro de “Olhares Queirosianos”, salientando mais um volume de uma colecção que começou com um Guia sobre Miguel Torga. Por sua vez, Carlos Fernandes desejou que outros guias possam vir a ser concebidos, evocando figuras de Leiria, como Rodrigues Lobo, Acácio de Paiva, Rodrigues Cordeiro, Afonso Lopes Vieira, Américo Cortez Pinto, Artur Lobo de Campos, Manuel Ferreira e José Marques da Cruz, entre outros.