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Com uma sala cheia e a curiosidade expectante de todos os presentes, foi apresentado na tarde do dia 16 de Novembro de 2013, no auditório do Arquivo Distrital de Leiria, o livro “William Charters, um oficial inglês em Leiria no século XIX”, da autoria de Ricardo Charters d’Azevedo. Trata-se de um livro de grande formato (A4), com 512 páginas a cores e capa cartonada. A produção e a edição são da responsabilidade da editora Textiverso. A sessão foi animada graciosamente pelo grupo coral Cantábilis, de Leiria, dirigido por Joaquim Narciso. A apresentação esteve a cargo do próprio autor que, em brilhante síntese, deu aos circunstantes boa nota do seu livro. Diria que o título pode induzir em erro, uma vez que a família Charters, sobretudo pela vertente inglesa, é ali tratada com algum desenvolvimento, mas o livro trata de muito mais assuntos, aproveitando justamente o estudo de uma família em pleno século XIX.

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Tudo o que eram usos e hábitos, ocupações sociais, artísticas e políticas dessa família são depois estendidos, por comparação, aos da sociedade burguesa leiriense daquela época. Ricardo Charters cita em particular dois escritores de nomeada – Eça de Queirós e António de Albuquerque – que são, eles também, bons caracterizadores dessa sociedade. Sem esquecer Rodrigues Cordeiro e o seu papel na dinamização cultural, em particular com o fomento da actividade jornalística na cidade.
Mas o livro vai mais longe, aprofundando matérias insuspeitas, como as invasões francesas, razão próxima da vinda para Leiria de um militar inglês de apelido Charters, suas consequências, dramáticas, na vida das populações da região, auxílios militares e logísticos e apoio económico inglês às populações sobreviventes. Neste capítulo, Ricardo Charters transcreve e analisa o quadro de um imposto sobre prédios, ofícios e ordenados – a Décima – relativo ao ano de 1811 que dá, casa a casa, rua a rua, o estado em que ficou a cidade depois da 3.ª invasão. Mas não se detém apenas nesta – vai mais longe e transcreve e analisa igualmente a de 1820, bem como a matriz predial da freguesia da Sé em 1861.
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A “zanga real”, expressão cara ao autor, que opôs D. Pedro a D. Miguel, conduzindo às fratricidas guerras entre absolutistas e liberais, teve também consequências drásticas para Leiria, sendo aqui abordada com relativo desenvolvimento.
É longo o capítulo dedicado especificamente a Leiria no século XIX, nos domínios social, artístico, cultural, religioso e de entretenimento, não aprofundando áreas económicas nem industriais.
E, naturalmente, trata das origens inglesas do apelido Charters, cujos antepassados foi encontrar enterrados no cemitério que envolve a igreja de Holly Trinity e St. Mary, em Berwick-upon-Tweed, região meio inglesa e meio escocesa, na costa oriental das Ilhas Britânicas. Daí à caracterização da família em Leiria, a partir do Visconde de S. Sebastião (José Maria Henriques d’Azevedo), natural das Cortes, e de Maria Isabel Charters, natural de Leiria, é um passo. O autor dá conta do seu solar, ao Terreiro, e transcreve um fabuloso inventário orfanológico que mostra a opulência da família.
Termina com nove anexos, qual deles o mais curioso e importante, sobre: o coronel Francis Charteris; as plantas de Leiria de início do século XIX; os testamentos de Robert e de William Charters; códigos do bom-tom; nótulas sobre a indústria e a actividade mineira em Leiria; e, ainda, uma incursão no século XX a propósito de uma visita do Rei D. Manuel II à cidade em 1909.
Trata-se, pois de um verdadeiro mergulho no passado de Leiria que interessará aos amantes e curiosos da história local.