A mesa da apresentação
A Casa da Madeira, em Lisboa (Rua do Alto do Duque, n.º 5, ao Restelo), foi o espaço eleito para a apresentação, no dia 9 de Outubro último, de dois livros de um madeirense, o Eng. Cecílio Gomes da Silva, falecido em 2005. Tratou-se de “Viveiros” e “Era assim no Funchal”, ambos da responsabilidade editorial da Textiverso e inseridos na colecção “Tempos & Vidas”, respectivamente com os n.ºs 5 e 6.
Na mesa estiveram, para além de Carlos Fernandes, em representação da editora, o Major José Manuel Gomes da Silva (filho do autor), o Professor Doutor Gustavo Rubim (apresentador e prefaciador dos livros), o senhor Carlos Santos (Vice-presidente da Casa da Madeira) e o Coronel Joaquim Evónio (mentor do site Varanda das Estrelícias: http://www.joaquimevonio.com/).
O Major Gomes da Silva fez algumas considerações sobre a actividade do pai e o seu gosto pela escrita “fotográfica”, descrevendo motivos e ambientes com rara perspicácia, primeiro em jornais e revistas e, agora, em livro, nestas edições póstumas. Sublinhou ainda que o pai era pouco dado a sessões de pseudo-intelectuais, pelo que, se fosse vivo, estaria pouco à-vontade num lançamento dos seus próprios livros.
Coube ao Professor Doutor Gustavo Rubim a apresentação propriamente dita dos dois trabalhos referidos, num discurso de improviso que colheu o aplauso da plateia, apesar de afirmar nunca ter estado na Madeira e de se considerar a pessoa menos indicada para a função. A verdade é que, enquanto académico da Universidade Nova de Lisboa responsável pela disciplina de Literatura e Antropologia, do Mestrado em Estudos Portugueses, Gustavo Rubim já prefaciara “Viveiros” e introduzira “Era assim no Funchal”, confessando a sua paixão por estes trabalhos de Cecílio Gomes da Silva. Não tem dúvidas em, no seu género, apontá-los como únicos no contexto madeirense e dos poucos em Portugal, referindo que no nosso país a literatura de carácter antropológico é muito rara e pouco expressiva e colocando o autor numa tendência americana muito menos retórica. A trabalhar com uma turma de alunos chineses, não hesitou em dar-lhes um texto de Cecílio Gomes da Silva para traduzir e estudar!
A assistência encheu a sala
No prefácio a “Viveiros”, Gustavo Rubim escreveu, nomeadamente:
«Ridículas umas, dolorosas outras» – assim qualificava, em 1987, Cecílio Gomes da Silva as recordações que dão matéria ao volume de contos que o leitor se prepara agora para ler ou, a esta hora, já leu. Esses dois extremos marcam, de facto, as histórias narradas, embora estejam longe de poder definir, por si sós, o tom em que o autor as narra. Mas mais importante é sublinhar o parágrafo final da introdução – intitulada «A Ilha dos Troncos» – pelo modo como aprofunda o sentido dramático de um projecto literário e memorialístico que só agora, mais de vinte anos depois, vê a luz pública para que foi concebido: «Passado meio século, sinto uma angustiosa e urgente necessidade de alijar este entulho de recordações na esperança de que, passando a outros o testemunho, me sinta menos atormentado.»
Já sobre “Era assim no Funchal”, considerou o seguinte:
Em 1991, o engenheiro silvicultor Cecílio Gomes da Silva (1923-2005) publicou no Jornal da Madeira uma série de artigos referentes a costumes e figuras de um quotidiano madeirense que, em boa parte, já nessa altura só sobrevivia na memória dos mais velhos. Anos depois, o mesmo periódico, no seu Magazine, republicou os textos qualificando cada «retrato» como «uma viagem à Madeira de outros tempos» e o conjunto destas lembranças, agora convertido em livro pela Textiverso, como «um importante trabalho, do ponto de vista etnográfico». (…) O olhar de Cecílio Gomes da Silva partilha com o do etnógrafo a paixão do exterior que lhe permite, a décadas de distância, reconstruir os traços diferenciadores de personagens que, na vida corrente, se tornam anódinas por força da própria familiaridade com que as tratamos. Dessa paixão decorre o apego ao detalhe sem o qual se diria que, para o autor, não há literatura que valha a pena.

O Coronel Joaquim Evónio, cultor da lusofonia, sublinharia também a importância destes dois livros e o facto de eles estarem precisamente a ser apresentados numa casa com vocação para tal tarefa, aproveitando para promover a sua Varanda das Estrelícias e o papel que ela desempenha na difusão da cultura.
A sessão foi encerrada pelo senhor Carlos Santos que não só se mostrou agradado com a sessão com ainda disponibilizou gentilmente o espaço para outras iniciativas.

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http://www.joaquimevonio.com/n_36_textiverso_nov2009.html